É dia e já está tudo pronto para uma vivencia única, que se repete algumas vezes por aqui, mas que continua sendo única, a encenação da morte de Cristo. O clima desse momento, como sempre, leva-nos a reflexão do mesmo.
As roupas do soldado, responsável por flagelar Jesus, dão realismo à representação de um episódio histórico e marcante, que foi tão bem encenado por tantos atores, mas que hoje é diferente. Há mais verdade no rosto do ator, suas expressões são dignas de um grande soldado.
Nas mãos um chicote feito de barbante, na cabeça um capacete, criado pelo pai e feito da caixa do “panetone” e sobre os ombros uma capa vermelha feita pela avó. O teatro é silencioso, para que ninguém perceba, sendo possível ouvir somente os sussurros do ator que tem seu texto decorado.
Um pequeno movimento dentro de casa faz com que o ator interrompa a apresentação e precise dar atenção à sua mãe que insiste para que o soldado se alimente, afinal, um soldado mal alimentado é um soldado fraco, porém o grande ator pede para que a mãe espere, pois ele agora está ocupado e a dispensa dizendo que depois come.
Espera a mãe se retirar para continuar a sua peça, pois não há espaço para espectadores, somente ele, suas roupas e o texto em seu “palco-quintal”, a platéia também é parte da sua imaginação.
O teatro continua e sem nenhuma piedade de Cristo, o soldado lhes da as chibatadas, o crucifica e festeja o seu feito.
Jesus morre!!!
E a essa altura o ator já está guardando a capa do soldado dentro do capacete para que ela não se perca e amanhã possa encenar novamente.
Tudo sistematicamente finalizado, o ator se veste de menino e corre para a cozinha dizendo – pronto, mãe, agora eu quero um danoninho - e num sorriso adorável abraça a mãe como forma de agradecimento pela espera e pelo danoninho, é claro,